menu Menu
Monster Hunter Rise não faz jus ao legado do filme de Monster Hunter
Por Marcellus Vinícius Publicado em 21 de outubro de 2021
Death's Door: três portas, um só caminho Anterior Bowser's Fury: Godzilla, Antigo Egito e o futuro dos jogos de Mario Próximo

Simplesmente meteram um tanque pra peitar o Rathalos

autor desconhecido

Há quem diga que Monster Hunter Rise, lançamento da Capcom para o Nintendo Switch, é uma evolução do que foi visto em 2017 com Monster Hunter World. Tal argumento parece ignorar, talvez deliberadamente, que no intervalo de tempo entre Rise e World houve outro grande lançamento da série, repleto de ideias novas e impactantes: o filme hollywoodiano de Monster Hunter, um clássico instantâneo que encantou dezenas ao redor do globo.

Dirigido por Paul W.S. Anderson, o responsável por sucessos de crítica como Resident Evil 4: Recomeço e Alien VS Predador, e estrelado por Mila Johovich, impecável no papel de si mesma em um chroma key, o filme elevou Monster Hunter a um novo patamar com suas corajosas releituras. Basta dizer que a protagonista não é uma caçadora comum como seria esperado, mas uma capitã das forças armadas americanas que foi parar de gaiato em um mundo paralelo. Nunca antes ideias sequer parecidas foram vistas nos jogos da série. Bom senso ou comodismo? Só o tempo dirá.

É com espanto, confesso, que percebo que Monster Hunter Rise pouco faz para aproveitar o legado deixado pelas ousadas ideias do filme. Aposta em uma abordagem mais próxima da fórmula bilionária que acompanha a franquia há quase 20 anos, ainda que com algumas inovações chamativas aqui e ali.

Rise abre mão da temática militar do filme para nos apresentar ao vilarejo de Kamura, que carrega forte influência da cultura e da arquitetura do Japão feudal. Um paralelo pode ser traçado também entre os monstros que são caçados pelos habitantes da vila e as lendas dos youkais, criaturas sobrenaturais típicas do folclore japonês. Considerando que a maior parte de Monster Hunter, o filme, se passa em um deserto sem absolutamente nada de memorável, Kamura parece um desrespeito à ambientação vista nos cinemas por se revelar interessante demais.

Outras mudanças seguem pelo mesmo e cruel caminho. Os tanques e jipes militares que serviram de transporte ao exército americano foram bruscamente substituídos pelo Palamute (ou Amicão, na tradução brasileira), carismático companheiro que auxilia nas batalhas e na exploração dos mapas. O arpão que Mila Johovich usa para subir na cabeça de uma aranha gigante foi transformado no Wirebug (Cabinseto), um insetinho cuja seda pode ser usada para fazer movimentos aéreos, deixando os combates muito mais dinâmicos e verticais. E o que dizer da inexplicável ausência de metralhadoras e lança-mísseis entre as armas disponíveis? Um duro golpe que certamente será sentido pelos fãs do filme, mesmo com as 14 categorias diferentes de arma disponíveis no jogo.

Mesmo com tantos deslizes, seria exagero dizer que Monster Hunter Rise é uma decepção. Longe disso. É notavelmente um dos melhores jogos de toda a série e uma das mais completas experiências online do Switch. São feitos dignos de aplausos, não nego. Mas vamos aos fatos: o filme de Monster Hunter é, sem sombra de dúvidas, a melhor adaptação cinematográfica com jipes militares que a série já teve. Enquanto Rise se coloca como um dos melhores em meio a tantos outros títulos, o longa-metragem de Paul W.S. Anderson desponta como o rei solitário em sua categoria. Merecia mais respeito por isso.

O alarmante prejuízo de cerca de 30 milhões de dólares mostra que Monster Hunter, o filme, é uma obra incompreendida muito à frente do nosso tempo. Uma sequência já parece improvável, dadas as circunstâncias. Isso significa que a série nunca mais se aprofundará em temas como mundos paralelos ou forças armadas americanas, preferindo seguir na zona de conforto da criatividade e refinamento constantes que a série já apresenta há tantos anos.

A quem interessa impedir que Monster Hunter recaia na mediocridade? Essa é a pergunta que toda pessoa que jogar Monster Hunter Rise precisará fazer a si mesma.

Texto originalmente publicado em abril de 2021 no START UOL

Monster Hunter Rise

Desenvolvimento: Capcom
Distribuição: Capcom
Plataforma: Nintendo Switch
Onde encontrar: eShop

Capcom Monster Hunter Switch


Anterior Próximo

keyboard_arrow_up